Como o gerenciamento de riscos pode auxiliar na contratação e manutenção de uma boa apólice de seguros
Introdução
Primeiramente, seria interessante explicarmos de uma maneira resumida o que realmente este termo significa especificamente dentro do segmento logístico. Hoje o “GR” ou “PGR” (Programa de Gerenciamento de Riscos) como é habitualmente conhecido, consiste no processo de levantamento, mapeamento e identificação de riscos que possam vir a causar danos à operação do cliente e baseando-se nestes dados, atuarmos ajustando esta operação a fim de mitigarmos ao máximo eventos como acidentes, avarias, roubos, dentre outros que fazem com que o processo de transporte não seja concluído, impactando em prejuízos não só financeiros (com a simples reposição do bem), como em toda a cadeia ligada à ele, impactando em atrasos e paralisações em linhas de produções, processos industriais, resultando no desabastecimento de setores, fazendo com que aquela pessoa ou empresa que necessite daquele determinado item e habitualmente o utilize, procure alternativas para suprir esta falta, refletindo em prejuízos para a imagem da empresa e abrindo precedentes para a concorrência atuar.
Nos últimos anos, infelizmente, tivemos um agravo expressivo nos índices de ocorrências relacionadas a mercadorias em virtude não só de roubos como todos pensam e sim em decorrência de acidentes ocasionados na maioria das vezes devido às péssimas condições da malha rodoviária, falta de estrutura de apoio, falta de manutenção e renovação de frotas e falta de preparo e treinamento do condutor e demais envolvidos.
Ocorrências de sinistros que possuam o acidente rodoviário como causa primaria, muitas vezes geram prejuízos vultuosos, principalmente envolvendo determinadas mercadorias às quais em virtude de um simples tombamento ocasionam a perda total de todo o embarque, seja ela causada pelo saque, normalmente envolvendo mercadorias visadas, bem como no caso de uma condenação total do embarque por parte do dono da carga, devido à regras existentes tangentes à impossibilidade de reaproveitamento das cargas remanescentes ao evento, as quais muitas vezes “aparentemente” estão intactas. Ex. Farmacêuticos e Alimentícios.
O gerenciamento de riscos intensificou-se muito devido aos eventos relacionados ao Roubo de Cargas, onde com o crescimento desenfreado e progressivo dos índices, todo o mercado obrigou-se a voltar os olhos para ele, pois anos atrás pouco se ouvia falar de, por exemplo, rastreamento veicular, onde poucas tecnologias existentes detinham o monopólio do setor dificultando a aquisição dos mesmos pelas empresas de pequeno e médio porte. Com o passar dos anos, cada vez mais estes itens que antes eram adquiridos apenas para uma segurança adicional à operação, começaram a se tornar obrigatórios e condicionais nas apólices de seguros (tanto para embarcadores como transportadores), aquecendo o mercado e fazendo com que novas tecnologias surgissem, impactando em redução no custo de aquisição, manutenção e despesas mensais, tornando-os mais acessíveis.
Hoje não se fala apenas de rastreamento veicular, pois no cenário atual já não é o bastante para conter determinadas situações e por conta disso temos disponíveis diversas outras formas de proteção que atuam em conjunto ou não com este anterior, sendo até mesmo a proporia escolta armada, além de tecnologias de contingências fixas, como é o caso de um segundo equipamento, normalmente um localizador, instalado no veiculo onde este acaba sendo acionado quando preciso ou em caso de falha ou inibição do equipamento principal assim como os dispositivos móveis do tipo “Iscas” que normalmente são alojados juntamente com a carga e também são acionados face a necessidade. Existem diversas outras tecnologias disponíveis em nosso mercado, muitas delas atuando hoje não só com a finalidade de prevenção ao roubo e sim tecnologias que são capazes de ir mais além, fazendo a transmissão de dados dos veículos em tempo real, auxiliando no processo de manutenção veicular, identificando precocemente falhas que poderão interromper a viagem do veículo futuramente ou até vir a acarretar um acidente, além de que, através destes dados coletados a empresa poderá traçar um perfil de condução do motorista que se necessário, poderá ser corrigido, trazendo economia com relação a desgastes prematuros, autonomia de combustível dentre outros fatores.
Com relação às apólices de seguros
Não é preciso dizer que mais uma vez por conta do cenário atual, o sinal de alerta está aceso em todas as principais seguradoras que operam no segmento de seguros de transportes em nosso país. Ano após ano, vemos seguradoras novas entrando no segmento de cargas, fusões envolvendo seguradoras estrangeiras e incorporações entre seguradoras já consolidadas, porém infelizmente também vemos, perto da mesma proporção, muitas outras se retirando motivadas por péssimos resultados obtidos nos exercícios anteriores.
Estes péssimos resultados, em virtude de problemas relacionados à taxa elevada de sinistralidade, quase sempre são reflexos de um PGR inadequado, onde em algum momento pode ter ocorrido uma falha no seu escopo inicial ou então, realmente na contratação da sua apólice de seguros houve enquadramento adequado, mas em virtude de mudanças constantes aquilo que antes era transportado e era considerado “não visado”, agora pode ter tido seu status mudado para “visado” e as precauções que deveriam ter sido tomadas por conta dessa alteração com relação ao gerenciamento de risco, não foram feitas. Quem nunca ouviu aquele comentário… “Você viu o que estão roubando agora? Quem diria heim?” Pois é.
Constantemente recebemos pedidos de propostas de seguros de transportes, principalmente no segmento rodoviário nacional destinado a transportadores rodoviários (carteira de seguros essa que sempre teve maior atenção por parte das seguradoras), solicitando condições securitárias extremamente desconexas, como limites cada vez maiores (normalmente na casa de milhões em um único embarque), taxas extremamente baixas, isenções de franquias e na maioria das vezes com o mínimo possível de exigências de proteções. Para muitos, esse é o perfil da apólice ideal e realmente seria se fosse outra a nossa situação, o que não é o caso, porém para a seguradora este tipo de apólice é considerada uma bomba relógio prestes a explodir. Um segurado que possui um índice de sinistralidade alto, quando findar a sua vigência, terá sua situação completamente reanalisada envolvendo reduções de limites, elevações de suas taxas, exclusão de coberturas para determinados tipos de mercadorias, dentre outros reajustes e não conseguirá uma condição adequada que comporte a sua necessidade, lembrando que este tipo de situação ocorrerá tanto em sua seguradora atual, quanto em qualquer outra companhia seguradora que esteja disposta a lhe ofertar uma nova apólice, uma vez que a troca de experiências de sinistralidades anteriores entre as seguradoras que atuam neste mercado tornou-se praticamente obrigatória.
Hoje em dia, dificilmente as seguradoras deixam de aceitar um determinado risco de um segurado, porém para todo o risco exige uma analise técnica de todo o perfil da operação, sendo avaliado minuciosamente todos os detalhes, basicamente: tipo de mercadoria a ser transportada, embalagem, origens e destinos envolvidos nos percursos, tipos de motoristas (funcionários, agregados ou autônomos), horários previstos, tipos de proteções que serão adotadas e em qual situação serão adotadas e principalmente o premio (custo) que a apólice gerará de receita à companhia que deverá ser condizente ao que apólice lhe garantir e traçando este panorama e conseguindo demonstrar à seguradora que existe viabilidade na operação, certamente teremos uma boa aceitação do risco.
Considerações finais
Infelizmente não existem milagres (particularmente nunca fui agraciado por nenhum, para que pudesse mudar a minha opinião), hoje uma apólice de seguros abrangente, robusta e com uma ampla gama de coberturas, seja para atender às necessidades da sua empresa como as necessidades de empresas as quais você preste serviço, requer investimentos, não só investimentos relacionados ao custo do seguro em si, mas sim, investimentos em gerenciamento de riscos, treinamentos, reciclagens e interação de todos os envolvidos, pois fazendo isso, certamente você conseguirá atingir o seu objetivo de manter uma apólice que atenda à suas necessidades e que seja duradoura.